Hoje a melancolia é um lago que adentro lenta mas confortavelmente, com minha pequena embarcação de madeira.
Pinheiros formam a vegetação e uma neblina se adensa a cada remada.
A água é da cor do chumbo e suas profundezas são imensuráveis, mas eu pulo como uma ponta de flecha e me lanço.
Não há nada que se mova a não ser pelas ondas causadas pelo meu impacto com o líquido turvo.
Eu mergulho cada vez mais fundo e, como num milagre, enxergo algo. Não, me engano, eu sinto tão forte e familiar que parece que vejo.
Aquele sentimento retorna e me envolve carinhosamente, trazendo calor dentro daquelas águas geladas.
Eu aproveito o momento, ouço os sons, me deixo ser devorado. E quando a lição terminar, volto a emergir.
Subo no barco, remo de volta, instintivamente, até a beira que nunca estive, onde o passado me aguarda.
Nos abraçamos, ele me alcança roupas secas, entra no barco e vai.
Eu fico, viro as costas para o lago, e vou.